quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Artesanais enlatadas


Microcervejarias americanas adotam a lata para proteger o sabor de sua produção artesanal, que chega a quase dois mil rótulos.

As vantagens da lata de alumínio sobre outras embalagens estão modificando bruscamente o mercado de cervejas artesanais nos Estados Unidos. Segundo a Aluminum Association, nos últimos cinco anos a participação da lata no mercado de cerveja americano cresceu cinco pontos percentuais (de 50 para 55%).

.O fenômeno foi identificado pelo site americano CraftCans.com como uma “revolução da cerveja enlatada”. De acordo com o veículo, especializado em cervejas artesanais, já existem mais de 500 microcervejarias americanas produzindo 97 tipos diferentes da bebida, somando cerca de duas mil cervejas artesanais em lata.

Surgiu até um novo negócio para atender às microcervejarias que não têm ainda condições de envasar seus produtos em lata. Foram criadas empresas que levam, em caminhões e vans, equipamentos e maquinário adequado ao envasamento. Há várias “enlatadoras móveis” (foto) circulando pelos pequenos produtores americanos de cerveja artesanal, que acabam ganhando, inclusive, espaço em suas instalações para ampliar a produção.

A principal vantagem da cerveja em lata é a proteção ao sabor da bebida. Como explica a sommelier de cervejas Tatiana Spogis (foto), “as latas são totalmente opacas e impedem a incidência de luz (solar ou artificial), que oxida a cerveja, alterando sua cor e sabor”. Sem entrada de luz e de ar (a vedação é maior), preserva-se por mais tempo o gosto original da bebida.

Mas há outras vantagens, que estão sendo descobertas pelos produtores americanos de cervejas artesanais. Mais leve e fácil de transportar que outras embalagens, a lata é também mais segura, não quebra. Na comparação com outras embalagens, a lata ganha também em conveniência para o consumidor, que pode degustar o sabor da bebida em atividades ao ar livre ou em festas com mais comodidade e elegância. Sem contar que, envasada em lata, a cerveja gela mais rápido e ajuda o meio ambiente no momento do descarte.

Em 2012, o portal americano The Huffington Post realizou um teste cego com quatro diferentes marcas de cerveja, para avaliar a preferência de 25 provadores. Qual seria melhor: a cerveja em lata ou em garrafa. Sem saber que cerveja estavam tomando, nem a marca nem a embalagem, os provadores acabaram optando na maioria das vezes pela bebida envasada em lata. O curioso é que, na média, 54% deles identificaram corretamente que estavam degustando uma cerveja em lata. Ao preferir a embalagem, mostram que o preconceito é coisa do passado.

Enquanto as microcervejarias americanas ampliam suas vendas com o envasamento em latas, as brasileiras têm outras preocupações pela frente: a própria sobrevivência. O problema, relata o presidente da Associação Brasileira das Cervejas Artesanais (Abracerva), Jorge Gitzler (foto), é a quantidade de impostos existente na bebida, uma carga tributária em torno de 60%, independente do volume produzido. “Hoje é completamente inviável ter uma microcervejaria.”, afirmou.

Uma primeira vitória veio no início de julho, na Comissão Especial do Supersimples, da Câmara dos Deputados. O relatório aprovado do deputado João Arruda (PMDB) incluiu a produção artesanal de cervejas, vinhos, licores e aguardentes no Supersimples, regime simplificado de tributação para micro e pequenas empresas. Pela proposta, a definição de atividade artesanal deverá ser regulamentada pelo Comitê Gestor do Simples Nacional em até 180 dias após a sanção da lei.

Em seu parecer, o relator lembrou que as empresas do setor de bebidas artesanais “geram quantidade expressiva de emprego e renda, merecendo regra de tributação condizente com seu porte”. João Arruda destacou a necessidade de tratamento diferenciado previsto na Constituição Federal, pois “micro e pequenas empresas não podem ser tributadas como as de maior porte e que produzem em larga escala”.

A mudança, acredita Gitzler, deve reduzir a carga tributária em cerca de 30% e garantir a sobrevivência do setor. Segundo a Abracerva, entidade criada há pouco mais de dois anos, há no país aproximadamente 300 microcervejarias artesanais, que movimentam cerca de R$ 3 bilhões por ano e representam em torno de 4 a 5% do mercado de cerveja.

Segundo Jorge Gitzler, o envasamento em lata ainda está distante para o microcervejeiro nacional. O custo do equipamento e a dificuldade de comprar grandes quantidades da embalagem são fatores que dificultam a adoção da lata pelas cervejarias artesanais. De qualquer forma, informou que pretende buscar soluções para que as microcervejarias sigam também a tendência mundial de utilização da latinha para cervejas.

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